domingo, 15 de novembro de 2009

Poema à moda de Caeiro

Eu sou aquilo que vejo,
Não aquilo que penso ser.
O que pensam de mim 
Não sou eu.
Eu sou, apenas, aquilo que vêem.

Tal como nos, uma pedra 
É somente o que se vê.
E para a conhecermos
Não nos adianta pensar,
Temos de senti-la,
Vê-la, cheirá-la, tocá-la.

Por isso mesmo que pense que a pedra é resistente
Nunca o consigo confirmar com os pensamentos,
Tenho de a atirar ao chão e
Ver se parte 
Só assim se pode alcançar a verdade
E tudo isto para dizer que
Uma pedra não passa de uma pedra e
Uma pessoa não é nada mais que isso mesmo
E por muito que se pense 
Não se alcança maior verdade.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

" Além de ser uma réplica do realismo irónico Queirosiano (...) o realismo lírico de Cesário Verde será o seu esforço de autenticidade anti-retoricista, com versos magistrais, salubres e sinceros" 

Poeta descontextualizado para a sua época, Cesário Verde, viveu na época do realismo e, por isso, apresenta determinadas influências deste movimento, como, por exemplo, o interesse pelo real, a preferência pelo cenário urbano e uma linguagem coloquial, rica em termos concretos, tal como Eça de Queiroz, seu contemporâneo. Cesário impulsionou o modernismo em Portugal e veio, posteriormente, dar origem ao parnasianismio em Portugal, movimento característico por dar mais importância a obra de arte que ao próprio autor, “a arte pela arte”.
A poesia Cesariana é caracterizada pelos seus “versos magistrais”, por este ser considerado um mestre, que serviram de referência para gerações de poetas posteriores, são versos salubres, limpos, com espírito anti-retórico e são sinceros, Cesário baseia-se, principalmente, nos sentidos e nas sensações, dando grande importância à visão. Recorre ao impressionismo pictórico, Cesário é “ o pintor nascido poeta”. 

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro

Menina e Moça, romance de Bernardim Ribeiro, editado por três vezes no séc. XVI: 1554 (Ferrara, com o título História de Menina e Moça), 1557-58 (Évora, com o título Saudades) e 1559 (Colónia, a partir da 1.ª edição), incluindo a 2.ª edição um prolongamento, que se costuma aceitar como sendo do autor, até ao cap. XXIV.
O texto representa uma convergência de tópicos ficcionais, quer no plano da história literária (agregando ingredientes da novela de cavalaria, do romance pastoril e da novela sentimental), quer no plano do conteúdo (pela conversão a um lugar de encontro, feminino e lamentoso, da Menina - que inicia o livro com um monólogo de evocação de deslocação e de mudança de vida - com uma Senhora, com a qual discute histórias de amores infelizes, que se intercalam na acção central da ficção).
Lugar e mudança convertem-se em pólos de uma comum nostalgia amorosa e do fatalismo do sofrimento, que fazem das histórias intercaladas, ex. Aónia e Bimuarder, Arima e Avalor, desdobramentos insistentes de uma mesma e infinita dor de constantes desencontros amorosos. Amor, natureza, mudança e distância são as constantes semânticas deste livro, o primeiro na literatura portuguesa a desprender-se relativamente das convenções da ficção coeva para assumir o estatuto de narrativa feminina da solidão e da saudade, e de texto de análise incisiva e minuciosa do sentimento amoroso, na sua faceta de consagração dedicada e dolorida.

“Menina e moça me levaram de casa de meu pai para longes terras; qual fosse então a causa daquela minha levada, era pequena, não na soube. Agora nao lhe ponha outra, senão que já então parece havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui eu naquela terra; mas coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que longo tempo buscou e para longo tempo buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste, ou que pela ventura me fez ser leda. Mas depois que eu vi tantas cousas trocadas per outros e o prazer feito mágoa maior, a tanta paixão vim, que mais me pesava do bem que tive que do mal que tinha.”