sábado, 1 de novembro de 2008

Slogans de Fernando Pessoa

"Primeiro estranha-se. Depois entranha-se" - 1928, para a Coca-cola. 

"Uma cinta Pompadour veste bem e ajuda sempre a vestir bem."

"Seja qual for a linha da moda na Toilette feminina é sempre indispensável uma cinta Pompadour." 

"Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra" 

"Eu explico como foi (disse o homem triste que estava com uma cara alegre), eu explico como foi...Quando tenho um automóvel, limpo-o. Limpo-o por diversas razões: para me divertir, para fazer exercícios, para ele não ficar sujo. O ano passado comprei um carro muito azul. Também limpava esse carro. Mas, cada vez que o limpava, ele teimava em se ir embora. O azul ia empalidecendo e eu e a camurça é que ficavam azuis. Não riam... A camurça ficava realmente azul: o meu carro ia passando para a camurça. Afinal, pensei, não estou limpando este carro: estou-o desfazendo.Antes de acabar um ano, o meu carro estava metal puro: não era um carro, era uma anemia. O azul tinha passado para a camurça. Mas eu não achava graça a essa transfusão de sangue azul.Vi que tinha que pintar o carro de novo. Foi então que decidi orientar-me um pouco sobre esta questão dos esmaltes. Um carro pode ser muito bonito, mas, se o esmalte com que está pintado tiver tendência para a emigração, o carro poderá servir, mas a pintura é que não serve. A pintura deve estar pegada, como o cabelo, e não sujeita a uma liberdade repentina, como um chinó. Ora o meu carro tinha um esmalte chinó, que saía quando se empurrava. Pensei eu: quem será o amigo mais apto a servir-me de empenho para um esmalte respeitável? Lembrei-me que deveria ser o Bastos, lavadeira de automóveis com uma Caneças de duas portas nas Avenidas Novas. Ele passa a vida a esfregar automóveis, e deve portanto saber o que vale a pena esfregar. Procurei-o e disse-lhe:
- Bastos amigo, quero pintar o meu carro de gente. Quero pintá-lo com um esmalte que fique lá, com um esmalte fiel e indivorciável. Com que esmalte é que o hei-de pintar?
- Com BERRY/LOID - respondeu o Bastos.
E só uma criatura muito ignorante é que tem a necessidade de me vir aqui maçar com uma pergunta a que responderia do mesmo modo o primeiro chauffeur que soubesse a diferença entre um automóvel e uma lata de sardinhas." 
(Publicidade das tintas Berry/Loid)

Mito de Bandarra

Nascido na cidade beirã de Trancoso, pensa-se que terá vindo ao mundo por volta de 1500 e falecido próximo do ano de 1556, altura em que podemos encontrar registo da oferta da sua obra ao bispo da Guarda.
Este sapateiro de profissão, católico, fervoroso leitor da Bíblia, numa altura em que o comum dos mortais a ela não tinha acesso por não se encontrar traduzida, foi perseguido pela inquisição e proibido de continuar as suas leituras da Bíblia.No entanto, importa introduzir, para quem não se recorda, o verdadeiro motivo da importância histórica do Bandarra.
 Enquanto mito de raiz popular, apoiado na crença da vinda de um salvador capaz de resgatar o país da crise e de catapultá-lo para renovada grandeza, o sebastianismo gera-se antes mesmo do nascimento de D. Sebastião, com as trovas messiânicas, da 1º metade do séc. XVI, de Gonçalo Anes, de alcunha Bandarra. Estas trovas, escritas pelo sapateiro de Trancoso, constituíram uma autêntica bíblia do sebasteanismo. Com a catástrofe de Alcácer Quibir, a morte de D. Sebastião e a invasão espanhola, as trovas ganharam uma importância crescente e, num ápice, de condenadas ao esquecimento, passaram a bíblia nacional. Nelas encontravam os portugueses o que queriam realmente que acontecesse. Prometia-se a chegada do «bom rei encoberto», o predestinado que livraria Portugal da opressâo Castelhana e lhe daria prosperidade, riqueza felicidade.
Curioso é que o Bandarra, esse visionário, poderia ter escrito ontem as suas trovas, porque alguns portugueses continuam ainda à espera do salvador.