domingo, 15 de fevereiro de 2009

Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro

Menina e Moça, romance de Bernardim Ribeiro, editado por três vezes no séc. XVI: 1554 (Ferrara, com o título História de Menina e Moça), 1557-58 (Évora, com o título Saudades) e 1559 (Colónia, a partir da 1.ª edição), incluindo a 2.ª edição um prolongamento, que se costuma aceitar como sendo do autor, até ao cap. XXIV.
O texto representa uma convergência de tópicos ficcionais, quer no plano da história literária (agregando ingredientes da novela de cavalaria, do romance pastoril e da novela sentimental), quer no plano do conteúdo (pela conversão a um lugar de encontro, feminino e lamentoso, da Menina - que inicia o livro com um monólogo de evocação de deslocação e de mudança de vida - com uma Senhora, com a qual discute histórias de amores infelizes, que se intercalam na acção central da ficção).
Lugar e mudança convertem-se em pólos de uma comum nostalgia amorosa e do fatalismo do sofrimento, que fazem das histórias intercaladas, ex. Aónia e Bimuarder, Arima e Avalor, desdobramentos insistentes de uma mesma e infinita dor de constantes desencontros amorosos. Amor, natureza, mudança e distância são as constantes semânticas deste livro, o primeiro na literatura portuguesa a desprender-se relativamente das convenções da ficção coeva para assumir o estatuto de narrativa feminina da solidão e da saudade, e de texto de análise incisiva e minuciosa do sentimento amoroso, na sua faceta de consagração dedicada e dolorida.

“Menina e moça me levaram de casa de meu pai para longes terras; qual fosse então a causa daquela minha levada, era pequena, não na soube. Agora nao lhe ponha outra, senão que já então parece havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui eu naquela terra; mas coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que longo tempo buscou e para longo tempo buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste, ou que pela ventura me fez ser leda. Mas depois que eu vi tantas cousas trocadas per outros e o prazer feito mágoa maior, a tanta paixão vim, que mais me pesava do bem que tive que do mal que tinha.”

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